TRILOGIA ORESTEIA
AGAMÉMNON
COÉFORAS
EUMÉNIDES
ENCENAÇÃO
RUI MADEIRA
[2012]
DE
ÉSQUILO
TRILOGIA ORESTEIA
AGAMÉMNON · COÉFORAS · EUMÉNIDES
Agamémnon · Coéforas · Euménides (458 a.c.)
Vídeo Integral:
Oresteia, uma tragédia da Europa. Em busca de um teatro político.
Com Oresteia, queremos fixar-nos na contemporaneidade. Em Nós! Nesta nossa-por herança de bastardos-Europa. Essa mítica, bela e quente europa que se banhava no Peloponeso, amamentada no berço pela Hélade para não deixarmos que a Memória nos atraiçoe. A velha vontade- há tanto acalentada-de destruição da nossa querida Europa recrudesce e os novos turcos são, afinal, os nossos irmãos de ontem. Eles estão hoje no meio de nós e esperam o momento. Com Oresteia queremos fixar-nos na Europa a partir do Sul. Co os pés nas areias mediterrânicas, num tecto de estrelas, com o azeite a alumiar e um ramo de oliveira na mão…
A Europa perdeu o rumo na volta da guerra. Os comandantes tresmalharam-se, embebedaram-se e ufanos de poder, declararam guerra aos povos. Esta Europa, casa dos Atridas, berço de nações e culturas, de hábitos de convivência entre homens e deuses está cativa qual Cassandra. A Europa, esta Europa toda, arrogante e faminta, enteada de todos os aleijados mentais da segunda guerra, é a Europa de líderes/títeres, com armaduras de deuses num Olimpo de circo. Com máscaras de olhos vazios e dentes roubados nos campos de concentração, funis de petróleo nas bocas e coturnos feitos de pele e ossos das valas comuns. Continuam a arrasar altares, pois já nada os indigna. Já não há deuses que nos acudam, nem homens que os interpelem. A nossa Europa é hoje uma massa informe, gelatinosa, que se apega a que passa.
Com Oresteia, as máscaras desta tragédia europeia, escondem rostos singulares de “deuses castigadores que a democracia erigiu” e que d alto do seu Olimpo olham com jactância os Coros de deserdados que vagueiam atordoados e começam a interrogar o Capital, esse deus ex-máquina. E assim, nesta trilogia trágica entre depusessem linhagem e humanos desumanizados, se ensaiará m novo paradigma de Justiça, quiçá mais trapaceiro. Com Oresteia o que se conta é a história desta Europa, depois da segunda guerra, alquebrada e moribunda, cansada da vitória. Dividida como uma família desavinda onde o ódio impera, a inveja e a intriga. Esta Europa/ Clitemnestra a um passo, puta e mãe. Agamémnon e Egisto, Orestes e Electra… esta Europa com tantas Cassandras no ouvido. Esta Europa, a mediterrânica, em de libertar-se e acabar de vez com os velhos deuses que nos querem enlouquecer. Nem estamos condenados, qual Efigénia, nem somos tão volúveis, quanto Helena. A guerra, esta guerra é para ser ganha pelo Coro de cidadãos de Atenas…
Rui Madeira